quarta-feira, 5 de novembro de 2014

CONSIDERAÇÕES SOBRE A GAITA CROMÁTICA


Bom dia queridos amigos da boa música.

Hoje vou postar para vocês um assunto que gera muita conversa e discussões sadias. Vamos falar da gaita cromática, instrumento ainda pouco aproveitado na música, pois a maioria das pessoas, inclusive músicos, não conhecem o que este instrumento pode fazer.

Para começar, a gaita cromática pode ter até quatro oitavas, começando do dó 2 e indo até o dó 6 quando se fala da gaita de 64 vozes. 
Ela tem todas as notas cromáticas (daí o seu nome) contidas no piano ou violão, por exemplo.
Nela é possível fazer acordes ou melodias a duas vozes, respeitando-se, claro, a tonalidade e a harmonia.
Há várias possibilidades de embocaduras diferentes que permitem tirar dela sonoridades bem diferentes e ricas.
Ela pode ser usada em qualquer gênero musical, do pop ao reggae, da bossa ao erudito, do rock ao jazz.

Uma outra questão bastante levantada é: Eu posso tocar qualquer música, em qualquer tonalidade com apenas a gaita afinada em dó?
A maioria dos gaitistas de cromática dizem que sim, mas vou colocar aqui um trecho de um trabalho, não editado, e que foi feito pelo saudoso mestre Ronald Silva, o Ronald da Gaita sobre isso. Vejamos a opinião dele:

"A partir de 1920 (entre 1920 e 1925) Borrah Minevitch encontrou o mecanismo para transformar a harmônica num instrumento cromático, unindo sobre um cavalete duas placas de vozes afinadas com a diferença de 1/2 tom (C e C#) separadas por um registro cuja 'chave' quando acionada fecha um dos lados e abre o outro, permitindo a execução da escala cromática. Este mecanismo, muito simples, permitiu a evolução do instrumento para tocar os diversos gêneros musicais, porém, o mecanismo foi aplicado em harmônicas com apenas 10 orifícios, resultando na limitação da tessitura do instrumento.

Posteriormente, o próprio Minevitch ampliou o modelo para uma harmônica de 12 orifícios, com a distribuição das vozes em 3 oitavas iguais. Estava criado o modelo da harmônica cromática com 48 vozes (3 oitavas cromáticas).

Este modelo foi rapidamente difundido entre os tocadores de gaita da época, os quais, eram virtuoses da gaita diatônica e com o novo modelo cromático evoluiram de maneira extraordinária. 

Entretanto, a criação da harmônica cromática não promoveu alteração significativa na estrutura do instrumento.

Houve modificação expressiva com relação a distribuição das vozes na 1ª oitava da gaita, alterando não apenas a ordem da escala, como também o acorde aspirado que deixou de ser um acorde de sol (G) modificado para ré menor (Dm). A outra modificação é estrutural, com a repetição da nota dó, permitindo que a harmônica possa ser produzida com 3, 4 ou mais oitavas, possibilitando a articulação sempre igual das escalas em qualquer oitava do instrumento, mas as limitações do instrumento permaneceram as mesmas  da gaita diatônica. 

Algumas limitações são de natureza melódica (arpejos, intervalos muito abertos etc) e outras de ordem harmônica (construção de acordes) pois a disposição das vozes (sopradas ou aspiradas)é fixa,
de modo que apesar da aplicação da chave, não é permitido ao harmonicista alterar a disposição das notas para a formação de acordes diferentes daqueles que resultam da estrutura própria do instrumento. 

Não é possível por exemplo a execução 'completa' dos acordes de lá maior/si maior/mi maior etc, ou dos acordes de sol menor/si menor/ré bemol menor/dó sustenido menor e outros.

Por outro lado é extremamente difícil as articulações ágeis dos fraseados nas tonalidades de mi maior, si maior, fá sustenido menor, dó sustenido menor etc. 

Por estas razões, as harmônicas cromáticas são também produzidas em todas as tonalidades maiores, permitindo ao gaitista tocar as composições clássicas ou populares cumprindo a tonalidade original, utilizando as possibilidades de harmonização próprias do instrumento."

Para ele, "a harmônica cromática é um instrumento que permite tocar todas as notas da escala cromática, porém, não é um instrumento absolutamente cromático. "

Ele ainda afirma que "esta afirmativa sugere que, não é possível ou é pouco recomendável tocar composições em qualquer tonalidade, com total e irrestrita facilidade técnica nas articulações do fraseado e na aplicação dos acordes."

" Assim, a harmônica deve ser utilizada de forma adequada para expressar nossa musicalidade, extraindo do instrumento o máximo de suas potencialidades.
A gaita deve ser tocada como gaita e não como uma flauta, um oboé ou saxofone. Sua construção permite fazer música de maneira que nenhum outro instrumento poderá fazer, portanto a harmônica deve ser explorada. "

"As considerações constantes deste texto podem ser melhor compreendidas teoricamente analisando o capítulo sobre a construção das escalas (progressão das 5as) e a 'geração da série diatônica maior':
1. tetracordes
2. escalas e tonalidades
3. tons vizinhos

Para a compreensão prática com a harmônica seguimos com a representação de um gráfico sobre a estrutura da harmônica e sua relação ao item dos tons vizinhos.

1. Estrutura da harmônica diatônica - afinação dó maior - C

                     F - C - G

2. Estrutura da harmônica cromática - afinação dó maior - C

                                                        Eb/Cm

Registro aberto             F/Dm      -  C/Am       -   G/Em

Registro fechado          Gb/Ebm  -  Db/Bbm   -   Ab/Fm

Na harmônica cromática é possível desenvolver também as escalas menores, portanto podemos considerar a possibilidade de aplicação do modo maior e modo menor (tons relativos)."

"Diante do exposto podemos compreender que a gaita é um instrumento transpositor e não deve ser considerado um instrumento absolutamente cromático. Entretanto é compreensível que esta orientação também não é absoluta ou inflexível, havendo exceções que deverão ser criteriosamente analisadas e consideradas para cada caso quando nos propusermos verdadeiramente estudar e tocar uma peça musical.
Esta orientação também não exclui a necessidade do estudo disciplinado de todas as tonalidades maiores e menores (escalas, arpejos, exercícios técnicos e melódicos) fundamentais para o completo domínio da harmônica. Porém, este é assunto para outras polêmicas discussões". 

E ele finaliza dizendo, "para concluir este trabalho orientamos aos gaitistas  que realmente são admiradores da gaita e efetivamente querem aprender a tocar seu instrumento, que ouçam os virtuoses da harmônica, pois com certeza, encontrarão o 'caminho das pedras'. Encontrarão os mais ocultos segredos para desenvolver a execução da harmônica."

Bem, por hoje é isso. Leiam, reflitam e coloquem suas opiniões. Eu tenho as minhas, mas fica para um próximo momento.

Inté.

 


















































































































































 
 

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