Para
abordar o Hip Hop torna-se essencial resgatar, de forma sucinta, a
origem do funk, pois essa forma de música surgiu da música negra americana, o
“Rhythym and Blues”, rotulada como “race music” até cair no gosto popular dos
jovens brancos americanos. Houve a partir da década de trinta, uma grande
migração da população negra que vivia no sul do país, para os centros urbanos
do norte dos Estados Unidos e que necessitava, emergencialmente, de trabalho.
Neste período o Blues absorve instrumentos elétricos dando origem ao Rhythm’d
Blues, que conseqüentemente mistura-se com a música gospel protestante,
resultando no “Soul”, cuja tradução é “alma”. Na década de sessenta o Soul
passa a ser a música de protesto dos movimentos em favor dos direitos civis dos
negros, tornando-se a “black music” americana. Na luta por uma real cidadania,
eles começam a fazer uso da palavra “funky” (fedorento), muito utilizada por
seus agressores. Desta forma o Funky passa ser uma forma de atitude e
identidade negra no vestir, falar, dançar, enfim, viver.
Na década seguinte, anos setenta, a mídia no Brasil
se apropria desse estilo e passa a comercializa-lo, projetando o estilo “Black
Power” com Gerson King Combo. Uma espécie de James Brown à brasileira. O Rio de
Janeiro, por concentrar a maior mídia de massa da época, aglomera grandes
equipes de som, como as “Soul Grand” e “Furacão 2000”, com realização de
grandes bailes na zona sul e subúrbio da cidade. A imprensa batizou este
movimento ao orgulho negro de “Black Rio”, entrando a década de oitenta
sacudindo clubes, discotecas e casas noturnas das grandes capitais brasileiras.
Nos Estados Unidos, paralelamente, em Nova Iorque e
Detroit, estava acontecendo uma reação ao movimento Black Power. Começa a
surgir um dos primeiros elementos estéticos da cultura Hip Hop: o RAP (Rhythm
And Poetry). Com a criação e comércio desacelerado dos CDs (compact disc), a
classe média americana começa a se desfazer de seus toca-discos de vinil, então
os jovens desempregados os recolhem e os reciclam, produzindo novos sons com
esses vinis, criando o “stracting”, que é arranhar a agulha no disco de vinil
no sentido anti-horário, o “phasing”, alterando a rotação do disco, e o “needle
rocking”, a produção de eco entre duas picapes. Desta forma é lançada a base
musical, ou melhor, o “break beats”, do rap. Esses DJs (disc jockeys) produziam
seus sons nas ruas e becos, desta forma proporcionando o surgimento do
movimento Hip Hop, que passou a unir a break dance, o rap, o graffiti, e o
estilo b-boy (b-girl) com suas grifes esportivas.
O Hip Hop chega ao Brasil, vindo da Florida (EUA),
pelo ritmo “Miami Bass” de músicas com batidas rápidas e erotizadas, mas este
ritmo aqui foi batizado de “Funk”, uma retomada ao movimento anterior. Duas
vertentes vão surgir neste estilo que acaba de chegar às comunidades de baixa
renda. Uma atente a demanda da produção midiática, à cultura de massa, liderada
por um grupo de pessoas que visam o lucro com esta produção, oferecendo a
população uma forma de diversão e de passar o tempo. Enquanto que a outra
vertente, o Hip Hop, propõe uma ação de protesto político e social para o
exercício da cidadania. O termo Hip Hop tem na sua etmologia as danças da
década de setenta, em que se saltava (hop) e movimentava os quadris (hip). Mas
também há registros de que tenha sido criado por Afrika Bambaataa (Kevin
Donovan).
O Rap (Rhythm And Poetry) tem sua origem nos “Sound
Systems” da Jamaica, muito utilizados por lá na década de sessenta, uma espécie
de carro de som onde o “toaster” (como o MC atual) discursava sobre os
problemas socioculturais e políticos do seu povo. Em busca de trabalho, na
década de setenta, esses toasters migraram para os Estados Unidos, e lá
contribuíram para o surgimento do Rap. A linguagem do Rap possibilitou aparecer
novos cantores, grupo musicais e mestres de cerimônia, os MCs, importantíssimos
nos bailes funks e nas apresentações de Rap.
A Break Dance é a linguagem artística dentro do Hip
Hop praticada pelos b-boys e b-girls, os adoradores de grifes esportivas. Este
estilo de dança surgiu com a quebra da bolsa de valores dos Estados Unidos, em
1929, quando acontece o desemprego em massa. Os artistas dos cabarés americanos
foram para as ruas fazerem seus números de música e dança, em busca de
dinheiro. Daí surge a “Street Dance” (Dança de Rua), porém com uma estética
própria daquela época. A break dance baseia-se na performance do dançarino, na
sua capacidade de travar e quebrar os movimentos leves e contínuos. Ela é uma estética
específica dentro da Dança de Rua (Street Dance) que possui característica de
enfrentamento, protesto e/ou performance em grupo, mas permitindo que em
determinado momento da apresentação alguém possa improvisar com a sua
habilidade em break dance.
Outra expressão artística marcante no movimento Hip
Hop é o “Graffiti”, que em parte tem a ver com a pichação, isto porque no
surgimento do Hip Hop o graffiti servia para demarcar becos, muros e trens nas
grandes metrópoles. Com a essência do movimento Hip Hop, nos anos oitenta,
essas demarcações foram se transformando em verdadeiros murais de obras de
arte. Hoje há uma nítida diferença entre o graffiti e a pichação, inclusive
pela ilegalidade e vandalismo do segundo. O movimento Hip Hop tem sido respeitado
por uma grande parcela da sociedade brasileira. Mérito alcançado pelos líderes
conscientes deste movimento no Brasil.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
HERSCHMANN,
Micael, O Funk e o Hip-Hop invadem a cena. Rio de Janeiro: UFRJ, 2003.
VIANNA, Hermano, O mundo funk carioca, Rio de Janeiro: Zahar, 1988
http://www.multirio.rj.gov.br/seculo21/